quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O ÚLTIMO DIA DE UM CONDENADO

Após uma interminável noite de lembranças e reflexões, infelizmente para mim, o dia amanheceu. Hoje é o último dia de minha vida.
Sei que quando esse mesmo sol que acabara de nascer, se por ao fim do dia, não estarei mais aqui para contemplá-lo e, amanhã bem cedo quando ele voltar a nascer, serei apenas uma lembrança. Não sei como ainda consigo ter forças para fazer esse triste relato.
Há meses estou aqui, condenado à morte por algo que juro que não cometi, mas aqui estou na certeza do cumprimento da sentença que me deram sem que nada eu devesse ou tivesse cometido algum mal para alguém. Tenho a minha consciência tranquila, pois nada de errado eu fiz, mas, aqui estou no aguardo dos instantes finais.
Sei que é injusto o que em alguns minutos irá acontecer comigo, mas não me deram direito à defesa. Não me deram direito ao que de mais importante e precioso eu tenho, que é a minha tão por mim amada vida.
Dizem que nos tratam bem enquanto estamos aqui e, aparentemente sim......, nos tratam bem, ...a comida é boa..., mas...., é um tratamento extremamente frio. Nem parece que eles têm sentimentos, pois para eles que nos deixam presos aqui, somos apenas números esperando a hora da morte. Não vejo brilho em seus olhares. Não vejo amor em seus corações. Só vejo pedras no lugar onde deveriam existir sentimentos.
Aqui fiz muitos amigos que como eu, esperam pelo seu momento e....para mim, é difícil descrever o que sinto...., pois, nos apegamos uns aos outros....e estamos aqui por um mesmo motivo. Estamos aqui condenados a deixarmos essa vida por uma decisão que não nos pertenceu.
Todos os dias eu vejo veículos que trazem novos condenados. Vejo também, veículos grandes e fechados que levam daqui aqueles que já se foram.
Ontem foi um dia muito triste para mim. Vi o meu amigo se despedir de mim e da vida. Quando chegou a sua hora foi muito doloroso para nós dois que por meses convivemos juntos.
Chegado o momento de partir daqui, de onde nesses meses todos compartilhamos uma bela amizade, senti a dor da despedida e, um profundo frio de tristeza penetrou em meu ser. Meu amigo olhou profundamente em meus olhos e seguiu o seu destino final.
Não consigo deixar de lembrar os seus olhos esbugalhados e a respiração ofegante por um forte e indescritível medo. O olhar de pavor que presenciei quando ele dobrou aquele corredor me deixa agora mais apavorado do que já estou, pois sei que hoje chegara a minha vez e não faço idéia na verdade de como será passar pelo fim. Não sei se sentirei dores, se perceberei que estarei morrendo lenta ou repentinamente.
Estou com medo e não tenho a quem me consolar. Ouço gemidos de dor e pavor...... Também estou apavorado...... Tem mais alguém sendo morto.... Estou com medo!
Agora tenho que me despedir. Espero que alguém leia esse meu último relato e possa repensar nos erros e injustiças que continuam sendo feitos pelo mundo.
Sei que a maioria dos seres humanos almeja se alimentar com a nossa carne e com o nosso sofrimento, mas tem tantas formas de se alimentar sem causar dor e medo, sem que ocorra essa tristeza toda nesses frigoríficos frios e desumanos.
Muitos comem nosso corpo por diversão em dias de festas sem que estejam realmente com fome e, por isso, perdemos a nossa tão preciosa vida.
Dói em nossos corpos e, muito mais, nos nossos sentimentos o que fazem conosco.
Se um dia resolveres repensar em suas atitudes, comece por se lembrar dos nossos olhares de dor nos instantes finais.

Autor
Leandro Ditzel
Membro da Academia de Letras, Artes e
Ciências do Centro-Sul do Paraná - ALACS

Curriculum Lattes
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8579333J9

RELAÇÃO ENTRE CLIENTE E COMÉRCIO: QUEM DEPENDE DE QUEM?

Você já deve ter ouvido a seguinte frase: “O freguês tem sempre a razão”. Essa frase pode não representar uma verdade absoluta, dependendo como se dá a relação entre o cliente e quem o atende. Porém, para o comércio em geral, essa frase acima deve ser entendida como uma afirmação quase sempre verdadeira, caso o estabelecimento comercial queira continuar vivo no mercado.
Sobre essa relação, tenho ouvido por aí, inúmeras reclamações de clientes dos mais diversos segmentos comerciais de nossa cidade, relatando sobre a maneira como são atendidos por quem presta os serviços, como se um rótulo indicando a forma de tratamento a ser dispensada ao cliente, ou ainda, dizendo o quanto ele tem ou deixa de ter, estivesse colado em suas frontes.
Imagine uma cena fictícia, em que você vai a um estabelecimento que serve refeições. Você não pode comer um determinado tipo de alimento que te faz mal. Aí você descobre que quase todos os pratos possuem um molho com esse alimento misturado ao que você vai comer. Você solicitar gentilmente então, que lhe tragam o mesmo prato que está sendo servido no Buffet, porém sem a mistura desse alimento que você não pode comer. Eis então, que a pessoa que está lhe servindo, fica extremamente enraivecida com o seu pedido e demonstra total descontentamento com você, chegando a agir de maneira ríspida. Mas nessa relação, você é o cliente, e quem te serve, representa o estabelecimento. O prato que você solicitou não tem nada de extraordinário, apenas você pede que o prato seja servido para você sem aquele molho que te faz mal. E aí o que dizer? Nesse caso, o cliente tem ou não a razão?
Não raramente ouvi pessoas contando que deixaram de serem atendidas pela maneira pela qual estão vestidas, como se a vestimenta que as cobre, demonstrasse se elas são dignas ou não de serem atendidas, ou indique ainda, se esse ou aquele cliente representará maiores ou menores comissões. Aqui vai um recado principalmente aos atendentes do nosso comércio. A forma de ser ou de se vestir, diz pouco sobre a pessoa a qual você está atendendo. Muitas vezes, diante dos seus orgulhos, traduzidos na forma com que você está se vestindo ou se enfeitando, pode estar um humilde cidadão que tem o privilégio de poder comprar um produto à vista, mas que pela educação simples que recebeu ou pela maneira modesta de se vestir, dá a falsa impressão de não possuir recurso algum para adquirir um bem. O que acontece, é que este cidadão sai muitas vezes de um estabelecimento comercial sem ser atendido, ou quando isso ocorre, o tratamento fica a desejar. São os famosos rótulos impostos por uma sociedade carregada de Pré - Conceitos.
Certa vez, conheci um agricultor em outra região do estado onde morei, o qual precisava comprar duas caminhonetes para os trabalhos da família em sua fazenda. Esse agricultor, em sua simplicidade, andava como achava que deveria se vestir, com suas roupas surradas, sua botina judiada, e seu velho chapéu de palhas. Certo dia, o agricultor e seu filho foram até uma concessionária comprar esses dois veículos, os quais eles necessitavam para os afazeres na fazenda. Ao chegarem ao estabelecimento, pai e filho precisaram pedir quase que encarecidamente para serem atendidos, pois atendente nenhum se dispôs de imediato a perguntar o que precisavam. Após se dirigirem à mesa de atendimento e mencionarem o desejo de comprar as duas caminhonetes, o atendente não se conteve em risos e chamou outro atendente para atender aos dois agricultores. Ao verem que o outro atendente, que por sinal era o gerente, já chegou com olhar irônico e palavras de deboche, pai e filho saíram e foram à outra loja, onde compraram à vista os dois veículos, porém, de outra marca. Mas para não se sentirem mais humilhados, retornaram à primeira loja para mostrar que as aparências podem enganar e para pedir mais respeito de quem fez a desfeita.
Mas infelizmente, não são todas as pessoas que cobram um bom atendimento, e quando são mal atendidas, simplesmente vão embora, fazendo com que o comerciante ou atendente imagine que aquela era apenas uma pessoa incomodando o seu serviço e que não daria lucros ao estabelecimento.
E o que dizer então, das pessoas idosas que vão se apagando aos olhares de algumas pessoas e se tornando invisíveis diante dos olhos insensíveis de alguns vendedores, que pensam que o mundo pertence somente aos que ainda são jovens, esquecendo que já estão na fila para a terceira idade.
Houve outra situação aqui em nossa cidade, em que a atendente simplesmente abandonou a cliente em meio à compra, só porque alguém com status social e dona de um “título”, chegou ao estabelecimento e passou a ter prioridade no atendimento. É lamentável, como esses absurdos ocorrem em uma relação comercial entre o comércio e o cliente.
Que tal agir com mais coerência ao atender um cliente, que por sinal, é a principal razão da existência do mercado? Não podemos julgar ninguém pelas aparências ou pelo “status”, pois afinal de contas, roupas são apenas amontoados de panos, aparências são apenas imagens superficiais que a sociedade almeja ver e, títulos de “doutores”, podem ser apenas pseudos títulos, ausentes de teses defendidas. Vamos começar a atender o ser humano pelo seu valor humano e não pelo que ele tem, do que ele deixa de ter ou apenas aparenta ter. Que isso valha não somente para o comércio, mas também, para todos os serviços, públicos e privados.
Claro que exemplos como esses, não representam a totalidade do comércio em geral, pois existem muitos estabelecimentos e atendentes respeitosos, mas esses exemplos acima citados são mais comuns do que se possa imaginar.
No comércio a dependência é recíproca. O cliente precisa comprar e o comerciante necessita vender. Porém, se você comerciante ou atendente não quiser me atender, por mim tudo bem, pois procurarei ser atendido em outro lugar. Mas, não se esqueça de que, por detrás de uma roupa simples pode estar uma pessoa interessada em comprar, e aí, você poderá estar perdendo uma ótima oportunidade de negócio.

Leandro Ditzel
Membro da Academia de Letras, Artes e
Ciências do Centro-Sul do Paraná - ALACS

IRATI. A BELEZA QUE NOS PASSA DESPERCEBIDA.

Você já se deu conta do quanto nossa cidade é bela? Talvez para muitos, esse questionamento soe de maneira estranha aos nossos ouvidos, pois estamos tão acostumados com as paisagens que nos cercam, que tudo isso já virou algo comum para nós e, é por isso, que muitas vezes não nos damos conta das maravilhas que podemos contemplar a cada dia.
Eu já havia refletido algumas vezes, sobre as maravilhas das paisagens para as quais a rotina do dia a dia, faz com que qualquer morador, de qualquer lugar do planeta, torne-as comuns aos olhos de quem more há anos no local. Essa não percepção ocorre aqui também entre nós moradores de Irati, fazendo com que as nossas paisagens também fiquem comuns. Tão comuns que muitas vezes somos surpreendidos por comentários de pessoas vindas de outras cidades e estados, que por aqui nunca haviam passado antes, falando sobre o encantamento de ver uma cidade com tantas formas naturais, tantos morros com seus contornos e com algumas matas ainda preservadas e, tantas ruas, nas quais a inclinação e a presença dos antigos paralelepípedos ainda preservados dão um charme especial. Charme esse, presente em algumas outras cidades do Brasil e do mundo e que são o orgulho dos moradores locais.
A vegetação presente nos morros, incluindo o Morro da Santa, é uma visão de encher os olhos de qualquer um que visite a nossa cidade, porém, se tornaram tão triviais para nós, que dificilmente paramos para contemplá-los, mesmo no sossego das tardes de domingo.
Coincidentemente, em uma noite dessas, após refletir sobre isso, eu assistia a um programa de televisão, o qual mostrava as maravilhas da belíssima cidade de Praga, na República Tcheca. O que mais me chamou a atenção na reportagem, muito mais do que a própria beleza de Praga, foi o quanto a população local não percebe a beleza presente em cada metro quadrado da cidade. Os próprios moradores do local ficavam atônitos, passando a perceber as belezas que os cercavam, quando a repórter as apontava, fazendo com que eles olhassem de imediato e espantados ao redor de onde estavam, passando a ver o que era imperceptível aos moradores, até então.
Penso que nós, moradores de Irati, deveríamos dar mais atenção à nossa cidade, não somente às belezas que as gerações moldaram ao longo desses cento e dois anos, mas principalmente, às belezas criadas por Deus, mas que a vida moderna acaba por nos tornar cegos diante do espetáculo. Deveríamos contemplar cada pedaço dessa natureza que tem sido tão generosa conosco.
Você já parou para assistir o nascer do sol de Irati e as manhãs na primavera, onde as cores da cidade ganham um toque especial pela luz natural? E o por do sol no outono, onde os tons laranja do astro rei contornam os belos morros, formando uma moldura de tirar o fôlego àqueles que se dão o direito de contemplar? Não? Então você nem deve ter visto dos pontos mais altos de Irati, a névoa que encobre praticamente toda a parte baixa da cidade nas frias manhãs de inverno, deixando descoberto apenas o morro das comunicações e outros aos arredores, como se um tapete branco de nuvens surgisse debaixo de nossos pés, mostrando esse espetáculo apenas àqueles que se dispõe a contemplá-lo.
Irati é um belo cenário cinematográfico que a natureza divina e as mãos de todas as várias gerações que por aqui passaram moldaram, e que está aberto para a contemplação a quem se disponha a ver. Por que então não damos a devida atenção? Por que não darmos dez minutos por dia e observar o espetáculo gratuito que nos cerca?
Mas antes de tudo, precisamos cada um de nós, darmos um exemplo de cidadania. Precisamos manter a nossa cidade limpa, sem os resíduos do nosso descaso. Precisamos preservar o pouco de vegetação que ainda resta nos morros e nas ruas de nossa cidade. Nossa história deve permanecer viva na memória das cinquentenárias ruas, recobertas com o suor e o carinho daqueles que com amor, deixaram para as futuras gerações o seu belíssimo trabalho.
Manter viva a natureza de Irati, o trabalho de um povo a nós deixado e também esse magnífico cenário, que para alguns ainda é despercebido, é tarefa para cada um de nós. Cabe a cada morador, preservar a cidade e cultivar a contemplação do que é merecido ser contemplado, para que as futuras gerações possam se encantar com a natureza e se orgulhar de poder tocar nos resquícios de nossa história, da mesma maneira que nós pudemos fazer.

Leandro Ditzel
Membro da Academia de Letras, Artes e
Ciências do Centro-Sul do Paraná - ALACS

Tortura Aplaudida


Apesar de vivermos em pleno Século XXI, infelizmente ainda nos deparamos com cenas lamentáveis de agressão e maus tratos aos vários tipos de animais, domésticos ou silvestres.
Nossa cidade, frequentemente estadia companhias de circo que trazem consigo, animais selvagens ou da savana africana, bem como demais animais domésticos e da fauna brasileira. O que poderia ser chamado de “espetáculo”, na verdade não passa de atrocidade gratuita e unilateral, onde, ao dono do circo, cabe o lucro (ou, apenas uma forma de sobrevivência) às custas do sofrimento alheio e, aos animais, restando apenas receber atos de injustiça, agressão e desumanidade em troca de um pouco de alimento que, na maioria das vezes não têm a mínima qualidade e nem a variedade necessária para manter a saúde desses seres vivos. Isso se confirma pelo estado em que os animais são vistos em suas jaulas apertadas, frias, úmidas e sujas, expostas ao sol escaldante.
Não faz muito tempo, tivemos em Irati, a presença de alguns circos que além dos maus tratos aos animais no local onde estes se encontravam enjaulados, estes pobres seres, passaram pelo triste e humilhante constrangimento de desfilarem em caminhões pelas ruas da cidade como se fossem troféus, e ainda terem que agüentar a tortura dos alto falantes e buzinas dos caminhões que anunciavam o espetáculo, bem como fogos de artifícios estourando próximo de seus ouvidos, como se uma grande festa estivesse preste a começar. Para quem está nas ruas vendo o “grande desfile” dos animais, pode ser até uma festa. Mas para os pobrezinhos que não têm escolha, isso não é uma festa. É uma terrível realidade vivida dia a dia, mês a mês e ano a ano, até chegar o misericordioso dia final.
Diante do picadeiro, somos contagiados pela magia do circo. A perícia da malabarista, do trapezista ou o riso que nos proporciona o palhaço, entre tantas outras apresentações que demonstrem a técnica e a habilidade, já seriam excelentes motivos para prestigiarmos uma arte milenar e culturalmente rica e, podermos então retribuir com os merecidos aplausos. Por que não fazer circo pelo prazer da arte pela arte em si? Por que se utilizar animais se o espetáculo já se faz completo sem a presença destes? A presença destes animais se faz muito mais necessária em seu habitat natural, onde eles são livres e felizes e têm a natureza como aliada.
Por detrás da lona do picadeiro, onde impera a alegria do espectador, pode estar escondida uma outra face do circo. A face da realidade em que vivem os animais por quase toda a vida, desde o momento em que são capturados à força, do seio de suas mães, as quais na maioria das vezes são mortas para que os filhotes sejam capturados, até o momento em que são descartados em função da velhice. Sabemos que o público espectador procura diversão, mas, inocentemente sem saber, alimenta o espetáculo da crueldade. Crueldade sim. Sei que para muitos se torna pesado e até mesmo desconfortável e indelicado utilizar este termo. Isso talvez se dê, porque não vivemos nas mesmas condições em que vivem estes seres, surrados e humilhados, aprisionados por jaulas e correntes, esperando apenas que a vida passe.
Gostaria de expor que nada tenho em contrário ao circo. Pelo contrário. Gosto de circo e admiro a habilidade de cada um dos artistas que faz a sua apresentação. Também nada teria em contrário às companhias circenses que trouxessem animais de forma não constrangedora e que, esses fossem bem tratados e se sentissem bem. Mas isso na verdade quase nunca ocorre. A minha indignação é com relação à exploração involuntária, da mesma forma em que fico indignado quando me deparo com qualquer outra forma de injustiça, seja com seres humanos ou quem quer que seja.
Dessa forma, vejo que se faça urgente e necessário que, em nossa cidade, a exemplo de tantas outras cidades do país, a elaboração de leis que proíbam a permanência de circos ou qualquer outra forma de espetáculo que explorem e/ou resultem em sofrimento de qualquer forma a qualquer tipo de animal. Apóio em condicional, a vinda de companhias á Irati, que tenham o objetivo de manter acesa a chama do circo, mas, que não causem sofrimento a nenhum tipo de vida, incluindo a humana. Circos que não possuam animais em condição de maus tratos poderiam sim mostrar aqui, as suas habilidades, pois afinal, espetáculo de verdade se faz com perícia e arte, e não com maldade.

Leandro Ditzel
Membro da Academia de Letras, Artes e
Ciências do Centro-Sul do Paraná - ALACS

ESTAMOS NO CAMINHO CERTO

Nós, seres humanos, estamos nos superando a cada dia que passa. Estamos cada vez melhores e prestes a atingir o nosso grande objetivo que é destruir de uma vez por todas esse planeta. Não! Não estamos falando de uma guerra nuclear. Estamos falando sobre uma forma que acreditamos ser mais “inteligente” para destruirmos esse planeta, com técnicas modernas que estamos utilizando há séculos, principalmente após o advento da Revolução Industrial.
Estamos mais eficientes nos métodos de poluição do ar e do solo com o surgimento de novos produtos químicos. Melhoramos bastante as maneiras de depositar lixo e esgoto em nossos rios e oceanos. Aprimoramos muito as formas de devastar as florestas e as matas das grandes e pequenas propriedades com a utilização de grandes e potentes tratores que agilizam o nosso trabalho.
Já somos a maioria no planeta, com o desaparecimento das inúmeras espécies animais que eficientemente estamos conseguindo eliminar e, continuamos na luta para eliminarmos outras tantas espécies, as quais, para nós, acreditamos serem intrusas.
Vamos ampliar nossa área de domínio derretendo as inóspitas geleiras das áreas polares desse planeta, através da moderna técnica chamada de aquecimento global. Queremos ter o nosso próprio Saara, amplo e arenoso onde hoje encontra-se ainda uma inútil área chamada de Floresta Amazônica, a fim de que nos transformemos nos novos Sheiks do futuro. Fazer com que isso aconteça é muito fácil. É só continuarmos esbanjando em tudo, principalmente na quantidade de carne que comemos, como já fazemos muito bem desde os tempos das cavernas, que de resto, a pecuária o fará para criar o grande deserto que tanto almejamos.
Estamos quase lá! Estamos no caminho certo! Vamos, porém nos apressar e aproveitar ao máximo tudo o que ainda nos resta. Vamos consumir o que ainda há. Vamos utilizar o pouco de água potável que ainda está disponível antes que as próximas gerações cheguem, pois estamos aqui antes dessas gerações que estão por vir, pois, afinal de contas, quem chega primeiro bebe água limpa. Não é assim que eu e você pensamos?
Devemos comer muito! Devemos consumir muito! Consumamos tudo antes que alguém consuma por você, ou antes, que sobre alguma coisa para os que estão por vir. Eles não têm o direito que nós tivemos pois chegarão depois de nós. Só assim, conseguiremos destruir com eficiência esse planeta.

Leandro Ditzel
Membro da Academia de Letras, Artes e
Ciências do Centro-Sul do Paraná - ALACS

Ei você...deixou cair alguma coisa ao chão

Parece mentira, mas é bem comum ainda nos dias de hoje em nosso país, encontrarmos pessoas que ainda tenham a capacidade de jogar lixo pelas ruas das nossas cidades.
É inacreditável que, em pleno ano de 2010, vivendo em uma sociedade civilizada, nos deparamos ainda com pessoas que lancem papéis de bala, pacotes de biscoito e salgadinhos e bitucas de cigarro pelas janelas dos carros ou jogando nas calçadas, enquanto circulam pelas ruas da cidade, como se vivêssemos dentro de uma grande lixeira.
Quantas vezes reclamamos de nosso país, dizendo que o Brasil não vai para frente e que nossa nação está longe de alcançar os patamares de países como Canadá e Suíça em termos de educação do seu povo. Porém, esquecemos que a educação não deve partir dos governos e nem das escolas, mas deve ter seu início no berço e em nós mesmos.
Certo dia, em plena rua principal, presenciei a cena de um cidadão que simplesmente jogou um toco de cigarro na calçada em frente a uma loja. Seria apenas mais uma cena de falta de educação se não fosse um cidadão bem conhecido e que deveria servir de exemplo para muitos. Vi outras tantas cenas que me deixaram entristecido, pois moramos em uma bela cidade e pagamos impostos para que ela permaneça limpa. Porém, algumas pessoas tentam fazer o contrário como se não morassem em sociedade.
Em outro dia, eu caminhava por uma praça e tive o desprazer de dar uma topada em alguma coisa que estava jogada no chão. Ao olhar mais atentamente o que eu havia chutado, percebi que era uma fralda usada e, pelo peso do objeto desprezado, notei que a mesma estava recheada pelos dejetos do seu usuário. A que ponto chega a falta de respeito, levando-se em consideração que há poucos metros dali, havia uma lixeira colocada estrategicamente para que ninguém cometa um absurdo desse . Mas infelizmente, todos os dias presenciamos situações como essas quem fazem eu me perguntar se é essa educação que se dá em nosso país. Espero que não, pois não quero acreditar que essa seja a visão que os outros países têm de nós brasileiros.
Latas de refrigerante pelas praças, pacotes de biscoito entupindo bueiros e bitucas de cigarro formando sujos e indesejáveis tapetes por toda a cidade estão se tornando rotina por onde quer que andemos.
Mas afinal de contas, a quem cabe manter a cidade limpa e isenta desses resíduos que poluem e deixam visualmente feias as nossas ruas? A quem reclamar para que as nossas cidades permaneçam limpas?
Para a primeira pergunta, posso afirmar que cabe a cada um de nós zelarmos pelo que é nosso, evitando sujarmos nossas cidades. De nada adianta reclamarmos às nossas autoridades para que limpem o que está sujo, se não fizermos a nossa parte. Temos que valorizar os impostos que pagamos, impedindo que sejam gastos com o nosso descaso.
E para a segunda pergunta, eu tenho uma sugestão para isso. Quando você se deparar com alguém jogando no chão um pacote, papel de bala, toco ou carteira de cigarros ou ainda alguma outra coisa que emporcalha as nossas ruas, diga a essa pessoa: Ei você! Deixou alguma coisa cair no chão. Quem sabe ela perceba o erro e passe a agir coerentemente com a nossa sociedade. Só assim, estaremos exigindo respeito às nossas cidades e fazendo com que o nosso país passe a ter uma imagem melhor lá fora, uma imagem digna de um país dito civilizado.
Leandro Ditzel
Membro da Academia de Letras, Artes e
Ciências do Centro-Sul do Paraná - ALACS

FILME ÀS AVESSAS

Como em qualquer grande produção americana feita especialmente para a telona, uma grande catástrofe está para acontecer.
O mar está prestes a invadir Nova York. A população desesperada foge para não morrer, ao mesmo tempo em que espera o herói do filme vestido com seu macacão azul estampado com a bandeira americana salvar todo o planeta. Eles sabem que o seu herói que, diante da bandeira branca e vermelha que jura honrar a pátria, salvará o planeta, pois afinal, ele é americano.
Tudo seria cinematograficamente perfeito se não fosse mais um dos inúmeros e repetidos apelos feitos pelo cinema americano. Mas, diante da realidade o herói americano não passará de mais uma das bilhões de vítimas da espaçonave terra que está prestes a sucumbir pelos estragos provocados pelos seus tripulantes.
Distante da telona e do mundo de faz de conta o herói mundial, os Estados Unidos, representado nos filmes americanos por um Herói galanteador e impecavelmente dotado de uma “inteligência suprema”, não passa na verdade, de ser o maior vilão das catástrofes tão lembradas pelos famosos cineastas.
Aquele que se diz herói é quem na verdade mais consome recursos naturais e libera em escala recorde, os gases causadores do aumento do efeito estufa. A sociedade americana está muito longe da imagem perfeita que tenta demonstrar ao mundo, em que é capaz de tudo e consegue salvar o planeta de qualquer catástrofe ou de qualquer problema, ainda mais, quando constatamos que eles são os maiores causadores dos grandes problemas relacionados com o consumismo exagerado.
Lembra da catástrofe provocada pelo Furacão Katrina em que o mar invadiu Nova Orleans? Pois é! Os tão eficientes e estrategistas salvadores do planeta, não conseguiam sequer resgatar os seus cadáveres que boiavam pelas ruas da grande cidade. Ninguém sabia para onde ir. A cena fatídica dentro do ginásio de esportes de Nova Orleans, bem que parecia com aquelas cenas que eles, os americanos, gostam de estampar sobre o pouco que sabem sobre os países em desenvolvimento. Sabem tão pouco sobre outros países, que pensam que nós brasileiros passamos o dia jogando futebol e dançando samba nas ruas repletas de animais selvagens.
Sobre eles, também sabemos pouco, pois durante anos fomos bombardeados somente com aquilo que eles quiseram nos mostrar em filmes, notícias e documentários, eximindo de nos mostrar a realidade que existe por detrás dos bastidores. Porém agora, o mundo se volta para a verdade sobre o país do Tio Sam e começa a enxergar que o mundo deve cobrar com firmeza uma atitude dos Estados Unidos, para que o planeta não sucumba com a degradação que principalmente eles estão fazendo.
A bandeira listrada com o vermelho do sangue do planeta e com o branco da ausência de uma atitude real por parte dos Estados Unidos lembra que o mundo já começa a ver quem de fato é o grande vilão da degradação ambiental.
Leandro Ditzel
Membro da Academia de Letras, Artes e
Ciências do Centro-Sul do Paraná - ALACS

CIGARRO. UM RALO PARA A ECONOMIA

Muito se tem falado pelos grandes meios de comunicação a respeito da economia do Brasil. Muito se fala a respeito da degradação ambiental e muito se tem questionado sobre as condições de saúde que muitos dizem ser “precária” em nosso país. Mas afinal, o que o cigarro mencionado no título tem a ver com todos esses questionamentos? Primeiro, gostaria que me permitissem falar um pouco desses questionamentos que comumente ouvimos por aí.
Antes de qualquer coisa, gostaria de fazer uma pergunta sobre o que dizem a respeito da saúde pública no Brasil. Será que o nosso sistema de saúde é tão precário assim como a mídia anda mostrando em suas matérias tendenciosas? É claro que há problemas como em qualquer sistema seja ele público ou privado, mas se abrirmos os olhos somente para o que a TV mostra em suas espetaculares notícias dominicais, iremos com certeza julgar e condenar o nosso SUS, o qual tem bem ou mal, nos servido.
Cenas de hospitais lotados, corredores cheios de macas e pessoas deitadas em agonia pelo chão, esperando por atendimento é o que a imprensa televisiva mais gosta de mostrar, pois afinal de contas, dá audiência. Mas o que temos de bom, onde é mostrado? Quem vem focar o que há de nobre em nossa saúde pública? O nosso completo calendário vacinal que é modelo mundial e que custa caríssimo para os cofres públicos, mas acessível a todos com o dinheiro dos nossos impostos, isso a televisiva mídia sensacionalista não mostra. Mas quando por motivos técnicos ou, seja lá qual for, faltar a “vacina da moda”, pode ter certeza que o fato vira manchete em todos os telejornais.
Não se questiona quando um ente nosso utiliza uma vaga em UTI e que o nosso tão apedrejado sistema de saúde investe milhares de reais em um único dia com um único paciente, a fim de lhe dar o melhor que puder. Claro que isso é um inquestionável direito, pois está muito bem expresso na constituição de 1998, mas isso, não nos dá o direito de vermos somente o que há de ruim. Quero deixar para falar sobre saúde pública em outro momento, pois é para mim um assunto empolgante. Quero falar agora, sobre um mal que prejudica esse sistema.
O fato é que questionamos tudo, a saúde, a economia e o meio ambiente. Claro que temos que questionar, pois um povo tem que ser crítico, mas devemos questionar com critérios. Questiona-se as leis anti-tabagismo com grandes polêmicas, esquecendo que o cigarro é um grande mal para a saúde e para a economia do país.
Não critico em momento algum nem o fumante que é um dependente químico e necessita de ajuda e tratamento para parar de fumar, e nem o produtor que precisa sobreviver, pois não recebe incentivo necessário para tal.
Critico o cigarro em si e os incentivos que se dão para a fabricação deste objeto tão nocivo. Critico a falta de alternativas ao produtor que se vê obrigado a produzir algo que lhe faz mal à saúde, mas esse, não vê alternativa para o sustento de sua família.
Não é crítica sobre crítica, mas sim, mostrar que, enquanto falamos mal da saúde pública no Brasil, não questionamos os bilhões de reais gastos em tratamento aos doentes de câncer, doenças coronarianas, pulmonares, derrames, infartos, entre tantas outras doenças e os bilhões gastos em UTIs, pensões e aposentadorias precoces ocasionadas pelo cigarro.
Quero mostrar que, enquanto questionamos os desmatamentos (e devemos continuar questionando), aceitamos que milhares de metros cúbicos de madeira são derrubados e queimados para a fabricação do cigarro, gerando sérios problemas ambientais. Quero falar que enquanto falamos da poluição dos rios, tentando achar culpados, milhões de peixes dos nossos rios e mares, sucumbem engasgados pelas bitucas de cigarro que chegam às águas vindas de longe através dos bueiros.
Quero mostrar que, por detrás de uma arrecadação de impostos, esconde-se um enorme ralo quase invisível do dinheiro público jogado esgoto abaixo por causa do cigarro. Dinheiro esse que poderia ser utilizada na melhoria dessa saúde que se teima em falar mal. Dinheiro que poderia ser muito bem aplicado na habitação, transporte, educação e tantas outras melhorias para o nosso país e às nossas cidades.
Um mundo melhor, mais saudável e sustentável é o que sonhamos. Fazer a nossa parte é possível e sem o cigarro isso se tornará bem mais fácil.
Leandro Ditzel
Membro da Academia de Letras, Artes e
Ciências do Centro-Sul do Paraná - ALACS

NÚVEM DE FUMAÇA! SINAIS DAS QUEIMADAS...VESTÍGIOS DA IGNORÂNCIA

O sol grandioso e vermelho que se despede no horizonte ao fim do dia, encanta os casais apaixonados. É um belo cenário de encher os olhos de quem o admira. Mas o que muitos não sabem, é que, o bonito espetáculo que lembra cenas do filme “Empire of the Sun” (Império do sol), é na verdade uma cena preocupante. Os tons avermelhados da nossa estrela são proporcionados pela intensa presença de poluição, principalmente a fumaça.
Estamos no inverno. Nessa época, é bastante comum a redução nos níveis de chuvas em nossa região, em função da própria característica da natureza. Dessa forma é normal que ocorram períodos de seca, onde a vegetação se torna bastante fragilizada e ressequida pela baixa umidade do ar e do solo.
O que não é normal é a quantidade de queimadas que ocorre ano após ano. Alguns até justificam dizendo que as queimadas são normais nessa época do ano, mas isso não é verdade. Verdade seria se as queimadas fossem resultado de eventos da natureza, como acontece quando um raio desencadeia um incêndio, após a descarga elétrica ter entrado em contato a vegetação seca. Para isso, no entanto, a freqüência com que esses raios viessem a ocorrer, deveria ser exorbitante para podermos alegar que as queimadas fossem normais para o período, o que sabemos que não é assim que ocorre.
O que vemos na verdade, é uma seqüência de ATOS CRIMINOSOS onde moradores tanto da zona urbana quanto da zona rural, ateiam fogo em terrenos, montes de vegetação seca, pastos e outros locais, com o intuito de “resolver” um problema que talvez nem exista, pois a vegetação seca poderia inclusive ser utilizada como adubo ou simplesmente, enterrada. O que é muito pior, e muito mais cruel, é que há aqueles ainda que colocam fogo nas matas. Não há motivos verdadeiros para se fazer queimadas, a não ser que seja para ocultar de imediato, alguma coisa para a qual haja a necessidade de se livrar de maneira “urgente”, o que seria de certa forma bem estranho.
Motivos para causar incêndios podem existir ou não, dependendo do que se passa pela cabeça de quem os provoca. O que não existe, é justificativa cabível para tamanha ignorância. Ignorância sim, se colocarmos em uma balança os prós e contras desse repugnante ato de vandalismo, pois esse fogo intencional poderá atingir proporções gigantescas e descontroladas. Vamos pensar então, nos dois lados dessa balança fazendo duas perguntas básicas.
A primeira pergunta é: Quais são os pontos positivos dos incêndios provocados? Bem, vejamos..., deixe-me pensar.....????....????.....????.... Puxa vida! Estou aqui, tentando encontrar algum ponto positivo, mas está difícil! Se alguém tiver uma solução para essa primeira pergunta, por favor, me diga.
Vamos para a segunda pergunta então: Quais são os pontos negativos dos incêndios provocados? Agora acho que está bem mais fácil. Vamos aqui então, enumerar alguns:
- incêndios causam poluição, que causam acidentes de trânsito com vítimas;
- as poluições dos incêndios causam problemas de saúde, que lotam os hospitais e postos de saúde, ocasionando sofrimento e gastos aos serviços públicos de saúde e ao bolso daqueles que sofrem com os problemas respiratórios;
- Incêndios destroem as nossas florestas, matando a vegetação e os pobres animais que, indefesos, morrem queimados pela ignorância de alguns;
- o carbono liberado pela queima das florestas, eleva os níveis dessa substância na atmosfera e o aumento no efeito estufa. Sofrerão com isso, os que são culpados e os que são contrários a esses atos criminosos;
- incêndios no campo ou na cidade, abarrotam os quartéis do corpo de bombeiros com chamadas telefônicas, para que haja o controle desses incêndios, onerando os cofres públicos e comprometendo os serviços quando há um aumento significativo nos atendimentos prestados;
- na área agrícola, as queimadas destroem micronutrientes importantíssimos para a produção de alimentos, empobrecendo o solo que fica desgastado com o fogo.
- as redes de transmissão de energia podem ficar comprometidas, ocasionando cortes nos abastecimentos e causando enormes prejuízos ;
- Em dias de frio, o problema é pior, pois a fumaça das queimadas se acumula, causando uma densa e feia cortina de fumaça, ocasionando os problemas de saúde e outros tantos problemas a mais.
Esses são apenas alguns dos exemplos. Vários outros poderiam aqui ser citados até com certa facilidade. Mas Uma pergunta me vem à mente agora. Como é que aquelas pessoas que continuam colocando fogo em quintais, terrenos baldios e florestas, não conseguem perceber isso? Ou não percebem, ou não estão nem aí com os narizes dos outros.
O que aqui não posso deixar de mencionar, é que essa atitude tão prejudicial a toda população e ao meio ambiente, é feita principalmente nos finais de semana ou no finalzinho da tarde, na tentativa de que os autores não sejam pegos em flagrante e esses crimes continuem impunes.
Da próxima vez que alguém pensar em colocar fogo em algum lugar, esse alguém deverá também pensar nas conseqüências desse tipo de atitude, e pensar ainda que, eu e mais algumas milhares de pessoas ao seu redor, poderemos estar sofrendo com esse ato tão primitivo de saírem por aí, botando fogo no que está quieto. A atitude errada pode ser sua, mas o problema passa a ser com os outros. Pense nisso!

Leandro Ditzel