quinta-feira, 19 de maio de 2011

NOVO CÓDIGO FLORESTAL. AVANÇO OU UM GRANDE ERRO?

Muito tem se discutido nos últimos meses acerca das mudanças no Código Florestal. Com isso, uma queda de braços está travada entre a bancada ruralista, que almeja a redução das reservas florestais e outros biomas, e os ambientalistas que lutam pela preservação das áreas verdes existentes.
O fato é que, o meio ambiente no Brasil vem sendo degradado lenta e gradativamente desde o século XVI, mas, principalmente no último século, essa degradação sofreu uma aceleração nunca antes vista, até mesmo em função do avanço industrial. Para piorar, quando se iniciou uma série de importantes discussões para se obter meios mais racionais de exploração dos recursos naturais, e tentar proteger os remanescentes florestais, surge uma proposta que é um verdadeiro golpe de misericórdia contra o ambiente e todas as formas de vida animais e vegetais e, o ser humano não será exceção.
Com uma reformulação no Código Florestal estaremos caminhando na contramão das necessidades humanas. Dizer que sem essa mudança diminuiremos a oferta de alimentos, ou que inviabilizará a agricultura é uma ilusão difundida por alguns poucos que pretendem enriquecer ainda mais com isso. É ainda, uma total falta de visão sobre as reais consequências que essas alterações irão ocasionar.
Será que alguém “questionou” para as outras espécies de vida, as quais têm os mesmos direitos que nós, a respeito dessas mudanças? Claro que não, pois, além de alguns esquecerem que não somos a única espécie no planeta, a proposta, como foi feita, é egoísta em todos os aspectos. Parece estranha essa citação, mas temos que pensar e agir de forma coerente, a ponto de não ocasionarmos danos a outras espécies, as quais perderão seu habitat e, além do sofrimento que estarão expostos, abandonarão o seu território em busca de abrigo e alimentos, sem contar a infinidade de animais e plantas que morrerão devido à ação devastadora do ser humano.
Já está muito claro que, a redução da área de cobertura florestal e as mudanças climáticas ocasionadas por essa diminuição das matas, irão interferir negativamente no perfil epidemiológico da população, com a possibilidade de avanço e mudanças no comportamento das doenças, proporcionando até mesmo o surgimento de novas moléstias. Isso tudo, além de uma significativa redução na qualidade de vida da população, aumentará os custos com saúde no país.
É importante frisar que, a maior parte da produção agrícola de soja e milho é destinada para a alimentação do gado (de corte e leite), suínos e aves, e que esses produtos agrícolas poderiam muito bem ser utilizados na alimentação humana. Já se perguntou quantos quilos de alimentos são necessários para se produzir um único quilo de carne? Não? Então pasme, pois, para cada quilo de carne bovina produzida, são necessários 07 quilos de grãos (soja ou milho) e 15.000 litros de água, sem contarmos ainda toda a área de pasto utilizada. Isso quer dizer que, somando-se a área de pasto, mais a área para a produção de grãos destinados à ração animal, poderíamos ter evitado muito dos desmatamentos que já ocorreram e, muitas pessoas que hoje não tem acesso a comida, certamente viriam a ter. A pecuária é uma das maiores causadoras da má distribuição de alimentos no Brasil e no mundo, e não as florestas, como erroneamente afirmam os defensores das mudanças no código florestal.
Se a população reduzir pela metade o consumo de carne, teremos uma oferta muito maior de alimentos e uma redução significativa dos desmatamentos, com a utilização dessas áreas para a produção, além dos grãos, de tubérculos, hortaliças e frutas.
Não há a necessidade desse radicalismo todo em destruir o pouco que existe, basta que nós, sociedade, reduzamos o consumo da carne, substituindo por alimentos vegetais, que ainda são muito mais saudáveis e não geram sofrimento animal. O “radicalismo” não está naqueles que sugerem a redução do consumo, está, sobretudo, naqueles que querem a qualquer preço pôr em risco o futuro do planeta, que de forma indireta têm o nosso aval, pois, se estão onde estão, é por que nós os colocamos.
Dizer que não aprovar o novo Código Florestal é inviabilizar a agricultura, é dizer o inverso do que realmente irá ocorrer. Com a redução das matas que com certeza será bem maior do que a nova lei irá aprovar, é interferir no ciclo das águas e no clima, com a possibilidade de desertificação e, aí sim, teremos uma agricultura inviabilizada pelos danos cometidos contra o meio ambiente.
Se os nossos nobres parlamentares realmente quisessem falar em produzir mais alimentos e segurança alimentar, discutiriam métodos de racionalizar a produção, ou seja, produzir melhor nas áreas cultiváveis já existentes, bem como, melhorar as condições de transporte da safra e reduzir os tão evidentes desperdícios de alimentos nesse país. Pensar ainda, em valorizar o produtor, garantindo preços justos e comércio aos produtos, pois é comum vermos alimentos apodrecendo no campo por falta de preço.
Para se ter uma idéia do tamanho do impacto negativo que estas propostas trarão, basta percebermos que, somente pelo fato de terem sido iniciadas as discussões a respeito desse código, houve um aumento de 26 por cento no desmatamento da Amazônia, comparando-se com o mesmo período do ano anterior, possivelmente pela possibilidade de anistia destas áreas devastadas.
Não nos resta nada mais, senão preservarmos os nossos biomas para que possamos continuar ter acesso a alimentos, à água e possibilitar que as próximas gerações tenham condições dignas de vida, e que as outras espécies não tenham o seu direito roubado por um código que será um verdadeiro desastre.
Cabe a cada um de nós fazer a nossa parte no consumo responsável e, principalmente, aprendermos a escolher melhor os nossos congressistas na hora de votar.

“Tornar o mundo perfeito é uma utopia, mudar completamente é um sonho, porém, melhorar é possível”. Leandro Ditzel.



Livro sobre preservação ambientalhttp://www.estantevirtual.com.br/mod_perl/info.cgi?livro=38998330