domingo, 4 de setembro de 2011

Educação, hoje

Um dia destes, lendo  uma revista, chamou-me a atenção a opinião de um leitor sobre educação. Ele dizia não acreditar que se teria uma escola de qualidade por haver uma melhora salarial de professores, mas sim, deveria haver preparo para os professores. Discordo desse leitor ao se referir que os professores são mal-preparados.
            Penso, sendo professor, que uma possível melhora na qualidade do ensino realmente não está  ligada somente ao aumento salarial, visto que uma vez assumido o papel de professor, este fará o seu trabalho da melhor forma possível, com muito comprometimento, fazendo render o máximo de si. Quanto à questão salarial, defendo à ideia de que a profissão professor deveria ser uma das mais bem remuneradas do nosso País, incisivamente mais aqueles que estão em sala de aula, pois é pelas mãos destes que toda a gama profissional passa.  Infelizmente, o professor brasileiro tem desvalorização salarial e social.
            Um professor atende ao mesmo tempo 30, 35, 40, 45 alunos, e nesse tempo é preciso ser educador e “saco de pancada”, tendo que ouvir desaforo, palavras de baixo calão, ameaças (inclusive de morte), entre outras coisas mais. Será que o mesmo aluno que desacata o profissional professor terá coragem de desacatar algum dia o seu chefe ou patrão? Penso que não. Então por que não respeitar o professor?
            E quanto à questão preparo, o professor participa de diversos e inúmeros cursos de capacitação ao longo da sua carreira profissional, mesmo porque se não os fizer, não elevará de nível e, consequentemente, não terá uma relativa melhora salarial; e é bom que se saiba que a escola pública paranaense, refiro-me à parte física, recebeu do governo passado significativo investimento de equipamentos, principalmente os de informática, embora haja muito ainda o que ser melhorado por ações governamentais.  Na verdade, o problema não está na educação, e sim  no aprendizado, isso mesmo, está na falta de interesse, na falta de educação (a que vem de casa mesmo), na falta de respeito, na falta de amor próprio de muito alunos que jogam o seu tempo no lixo, e o pior, atrapalhando aqueles alunos que realmente querem aprender e que se esforçam para um dia conseguirem um lugar ao sol,  valorizando o ensino que recebem, fruto dos impostos pagos por toda a sociedade.
            Uma frase poderia dar uma justificativa para tal situação: Não se dá valor ao que vem fácil. Transporte, ganha-se! Livro didático, ganha-se! Merenda, ganha-se! Bolsa-escola, ganha-se! (Onde chegamos: há famílias que recebem para mandar alunos para escola, e quem é que paga? O contribuinte!). Professor cada vez mais aprimorado, ganha-se! Passar de ano sem esforço, ganha-se! Tudo ao aluno! Quase nada ao professor! Será que estou errado em pensar assim? Está mais que na hora, ou melhor, já passou da hora de mudança de pensamento, o aluno deveria dar algo em troca por receber educação gratuita: e não seria muito, apenas estudar com empenho e respeitar os professores. Cobrar apenas a frequência do educando é pouquíssimo.  Lembro-me que há uns trinta anos eram os alunos que compravam os livros, muitos adquiriam de segunda mão, eu fui um deles, tendo que apagar com borracha todas as atividades constantes nos livros. Transporte? Não havia! Bolsa-escola? Muito menos! E no entanto havia respeito e reconhecimento aos professores. Por quê? Porque frequentava a escola quem queria, e se alguém não queria pelo menos lá estava  por obedecer aos pais ou responsáveis; era a família fazendo o seu papel.
            O educando necessita entender que o estudo abre portas, as quais certamente levarão ao sucesso profissional, social e cultural. O jovem precisa saber que o estudo abre a mente, melhorando muito a visão de mundo, enriquecendo-o para a defesa das armadilhas da vida. Tenho certeza de que os professores falam muitíssimo sobre a importância do estudo para a Vida. É uma pena que poucos ouvem e respeitam o que os “mestres” têm a ensinar.
            Ainda há tempo de salvarmos o sistema educacional; é necessário que ações sejam tomadas para se resgatar os valores de outrora; é necessário ainda que as autoridades governamentais repensem a política do tudo se dá, com ou quase nada  a cobrar em troca, e que as autoridades educacionais acreditem no trabalho dos professores, pois estar em sala de aula é, nos dias de hoje, uma árdua tarefa para os que encaram este desafio, tarefa que por sinal está a se escassear por falta de profissionais. Evidentemente, a mudança de pensamentos e atitudes não farão que a educação tenha uma melhora significativa da noite para o dia, pois se trata de um processo lento para a reconstrução desses valores. E somente quando esses valores forem reconstruídos é que haverá diminuição na taxa de criminalidade e da injustiça social.
Texto escrito por Luciano Ditzel.

 Luciano Ditzel é especialista em Língua Portuguesa: Leitura e Produção Escrita, Autor do livro Contos e Poemas. Autor da obra infantil "Passarinhos Faceirinhos", Editora Litteris, lançado na Bienal Internacional do Livro, Rio de Janeiro, 2005. Participação da Coletânea Prêmio Leminski de Poesias, com o poema O tempo. Menção honrosa no Teatro São João - Lapa, com a poesia Saudade.