quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O DESPERDÍCIO E A FOME

Estava eu, um dia desses, voltando de uma viagem com um grande amigo meu, quando sem ter muita opção, paramos à beira da rodovia para almoçarmos em um daqueles restaurantes de grande movimentação. Com fome, sentamos à mesa e começamos a almoçar. Com todo aquele movimento, comecei a observar as pessoas que almoçavam próximas a nós.
Foi quando então, me deparei com uma cena que de cara me chamou a atenção. Na mesa bem em frente a que eu e meu amigo estávamos, estava um casal comendo um rodízio de carnes. O garçom não parava de servir aquele casal e, a quantidade de carne que ele colocava em seus pratos era espantosa. Há cada cinco minutos em média, o casal chamava pelo garçom, para que ele trocasse a carne que estava em seus pratos, pois aquela que há instantes atrás ele havia servido, já estava fria e não estava mais de agrado ao casal. Fiquei surpreso em ver tamanho desperdício. Mas o casal continuava a solicitar pela presença do garçom, dizendo ao funcionário do restaurante: “Garçom, troque essa carne, pois essa aqui já não presta mais”.
Pasmo com o que acabara de ouvir, não deixei de perguntar a mim mesmo: O que é não prestar mais? Será que aqueles pedaços de carne entraram em decomposição em questão de minutos, ao ponto de não mais prestar para o consumo humano? Por que então, o casal não se serviu apenas com a quantidade necessária para saciar a sua fome? Estavam eles comendo por diversão, gula ou porque queriam que o preço da refeição valesse a pena? Não deixei então, de pensar nas várias possibilidades que aquela atitude causaria.
Pensei comigo, nas milhares de pessoas, que pelo mundo afora passam fome e sonham com um pedaço daquela carne, mesmo que tirada de uma lata de lixo. Pensei no aumento da demanda desse produto e no aumento da produção necessária para suprir tal desperdício. Pensei que, esse aumento da demanda, requer aumento na área de pasto para criar o gado, sem contar que além do mais, são necessárias mais áreas agricultáveis para produzir o milho e outros produtos para a fabricação da ração, a qual, os animais irão precisar para engordarem e servirem para a produção da carne.
Já pensou você, que se não fosse o desperdício e o consumo exagerado de carne no planeta, a fome não seria tão cruel com a nossa espécie humana? Queiram ou não, isso é uma verdade. Se o consumo da carne no planeta fosse reduzido, todas as áreas utilizadas para o pasto, bem como para a produção de grãos utilizados na produção da ração animal, seriam utilizadas para a produção de alimentos. Isso iria aumentar a oferta de alimentos oriundos da agricultura, além de reduzir drasticamente aqueles desmatamentos dos quais, insistimos em dar a culpa somente nas péssimas políticas de meio ambiente, esquecendo que o nosso consumismo é o maior vilão da degradação ambiental.
Mas todo o desperdício não é de exclusividade ao consumo da carne. Existem outras formas de desperdícios que vão desde a frota sucateada que esparrama toneladas de alimentos diariamente pelas rodovias do nosso país, ao simples desperdício de alimentos nutritivos em nossas casas que por motivos “culturais”, simplesmente vão parar nos lixões. Esse é o caso, por exemplo, dos alimentos como os talos de beterraba e de cenoura, com alto poder nutritivos, mas que infelizmente não nos demos conta disso ainda.
Como se não bastasse, nas feiras e supermercados, os nossos olhos são atraídos por aquilo que aparentemente é mais saudável, sem nenhuma mancha ou arranhão sequer. Preferimos frutas e legumes “perfeitos”, mesmo que para ficarem com essa aparência agradável, sejam utilizados os agrotóxicos mais prejudiciais ao nosso organismo. Por causa desse desprezo, milhares de toneladas de alimentos de boa qualidade, mas que pela suas aparências, apresentando pequenas “falhas” e manchas, perdem valor comercial e são jogados nos aterros das grandes e das pequenas cidades.
Outro dia, fui á uma pizzaria aqui de nossa cidade, e notei o quanto muitos dos clientes não tem a noção do desperdício. Simplesmente, lançam mão daquela borda da massa, a qual sem ter como ser utilizada é simplesmente jogada no lixo. Tentei entender a lógica desse desperdício, mas nenhuma resposta convincente veio à minha mente. Ao que sei, essa massa (a borda que acabo de mencionar), é basicamente composta de farinha de trigo, aquela mesma que teve seu preço levado às nuvens por causa da diminuição da oferta mundial desse produto.
Pois é. Enquanto falta trigo no comércio mundial, simplesmente jogamos no lixo a comida feita com esse grão, participando dessa forma, para que o preço do produto suba mais e mais, enquanto nossos irmãos desprovidos de recursos, choram por um pedaço de pão seco, vendo seus filhos serem consumidos pela fome.
Está na hora de refletirmos mais sobre nossas atitudes. Está na hora de entendermos que somos todos co-participes das agressões ao meio ambiente, da mesma forma que temos nossa parcela de culpa na diminuição da oferta mundial de alimentos.
Da próxima vez que você desperdiçar um alimento, seja ele qual for, lembre-se que alguém poderia ser alimentado com os nossos exageros, ou ainda, ser salvo com aquilo que simplesmente chamamos de resto.

Leandro Ditzel
Membro da Academia de Letras, Artes e
Ciências do Centro-Sul do Paraná - ALACS

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