quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

O PREÇO DA ÁGUA

Diante das notícias de falta de água em São Paulo, ficamos perplexos com o fato de como uma região que historicamente não sofria com esse problema, possa estar passando por tamanha dificuldade e escassez. Porém, esse problema já vinha sendo anunciado pela comunidade científica há muito tempo e, o clima já vinha dando sinais claros de que alguma coisa de errado estaria acontecendo. Aqui no Brasil, problemas recorrentes de seca são típicos de parte da região nordeste. No sudeste, no entanto, essa situação nos faz buscar por respostas e, principalmente por soluções que não sejam apenas para resolver problemas focais de falta de água em si, mas, principalmente, buscar soluções que visem agir na causa do problema, os quais, são ocasionados por nossas ações.
            Como explicar o fato de que o Brasil, um país que detém a maior reserva de água doce do mundo, cerca de 23% do total do estoque do planeta, conforme apontam as pesquisas, esteja passando por uma situação como essa? Sabemos que nosso país possui dimensões continentais e que a distribuição de suas reservas de água é irregular devido, inclusive, ao seu tamanho, mas, o fato é que, drásticas alterações no seu ciclo das águas estão ocorrendo.
            O ser humano está criando o seu paradoxo dentro das questões ambientais e, aqui no Brasil, não é diferente, pois, buscamos por soluções que acabam por nos trazer outros problemas.
            Quando se buscou incrementar a produção de alimentos através do aumento da área de plantio, provocamos danos que fatalmente reduzirão a médio prazo essa mesma produção. Esquecemos que os desmatamentos afetam diretamente no abastecimento local da água devido à destruição das nascentes e rios e, pior que isso, interrompem o ciclo das chuvas nas regiões sul e sudeste de nosso país e dos países vizinhos, pelo desenfreado desflorestamento da região amazônica, que nutre a atmosfera de água que formam as nuvens que despejam água em boa parte do país.
            A forma de irrigação da agricultura é feita de forma ultrapassada, deixando que grande parte da água que seria disponibilizada às raízes das plantas, simplesmente se evaporem, voltando ao ciclo da água, mas dificultando a logística de irrigação. A luta pelo aumento na produção de alimentos, da forma equivocada com que é feita, queiramos ou não aceitar isso, trará como resultado a formação de novos desertos.
            Os desperdícios de água estão por toda a parte. Cabe ressaltar que a falta de um bom planejamento e manutenção por parte das companhias de abastecimento de água no país, ocasionam a perda de grande percentual de água tratada, antes que essa chegue às torneiras das residências. Esse desperdício ocorrido por vazamentos, rompimentos e falhas na distribuição feita por tubulações velhas e ultrapassadas, faz com que essa perda possa representar perdas desde alguns poucos por cento, até em torno de 70% em alguns estados do norte do país.
            É salutar que os investimentos em infraestrutura de captação, tratamento e distribuição de água no país, não ocorram somente a curto e médio prazo. É importante que se pense e estruture todo o sistema, fazendo uma projeção do crescimento populacional e industrial, que irá gerar uma demanda crescente no futuro, na mesma perspectiva em que a oferta do nosso bem mais precioso tende a diminuir e, até mesmo se esgotar em alguns lugares. Temos um grande desafio pela frente. Como aumentar a oferta de um produto que se torna cada vez mais escasso? As respostas para isso são tão complexas, quanto as ações necessárias para garantir o mínimo estoque e qualidade da água que viabilize a continuidade das civilizações. Parece cômodo, mas a situação que já é crítica em muitos países, tende a se espalhar por todo o planeta, se nada for feito.
            Eu já havia dito antes em outra crônica, que hoje se faz guerra pelo petróleo e, no futuro, se fará pela água. Vivemos milênios sem a necessidade de petróleo, mas, sem a água, jamais estaríamos aqui. Novas alternativas de energia, até para a substituição do petróleo são descobertas com frequência, mas, em substituição da água, não há o que fazer.
 E nós, cidadãos, individualistas em nossas decisões, não temos a nossa parcela de responsabilidade em ocasionar problemas que afetam toda uma coletividade? Cada ação que tomamos para o nosso bem estar ou, simplesmente para satisfazer os nossos desejos, trazem sempre, por ínfimos que sejam, algum impacto ao meio em que vivemos.
Em pleno período falta de água, pude me deparar com pessoas lavando o carro e deixando a torneira aberta enquanto esfregavam a lataria, ou, “regando calçadas” - não lavando, regando mesmo - por intermináveis minutos. As respostas mais óbvias para o questionamento do desperdício? “Eu pago a conta”; “Não utilizo todos os metros cúbicos a que tenho direito, pago a taxa mesmo e tenho direito”.
Volto então a questionar: Qual é o preço da água? O preço, na única resposta que vem a minha mente é aquele que não podemos pagar com o nosso dinheiro. O preço, é aquele que pagaremos com a falta do produto mais precioso, e que não temos dado o devido valor.

Leandro Ditzel
Membro da Academia de Letras, Artes e
Ciências do Centro-Sul do Paraná - ALACS

Curriculum Lattes
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8579333J9

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