quinta-feira, 2 de setembro de 2010

IRATI. A BELEZA QUE NOS PASSA DESPERCEBIDA.

Você já se deu conta do quanto nossa cidade é bela? Talvez para muitos, esse questionamento soe de maneira estranha aos nossos ouvidos, pois estamos tão acostumados com as paisagens que nos cercam, que tudo isso já virou algo comum para nós e, é por isso, que muitas vezes não nos damos conta das maravilhas que podemos contemplar a cada dia.
Eu já havia refletido algumas vezes, sobre as maravilhas das paisagens para as quais a rotina do dia a dia, faz com que qualquer morador, de qualquer lugar do planeta, torne-as comuns aos olhos de quem more há anos no local. Essa não percepção ocorre aqui também entre nós moradores de Irati, fazendo com que as nossas paisagens também fiquem comuns. Tão comuns que muitas vezes somos surpreendidos por comentários de pessoas vindas de outras cidades e estados, que por aqui nunca haviam passado antes, falando sobre o encantamento de ver uma cidade com tantas formas naturais, tantos morros com seus contornos e com algumas matas ainda preservadas e, tantas ruas, nas quais a inclinação e a presença dos antigos paralelepípedos ainda preservados dão um charme especial. Charme esse, presente em algumas outras cidades do Brasil e do mundo e que são o orgulho dos moradores locais.
A vegetação presente nos morros, incluindo o Morro da Santa, é uma visão de encher os olhos de qualquer um que visite a nossa cidade, porém, se tornaram tão triviais para nós, que dificilmente paramos para contemplá-los, mesmo no sossego das tardes de domingo.
Coincidentemente, em uma noite dessas, após refletir sobre isso, eu assistia a um programa de televisão, o qual mostrava as maravilhas da belíssima cidade de Praga, na República Tcheca. O que mais me chamou a atenção na reportagem, muito mais do que a própria beleza de Praga, foi o quanto a população local não percebe a beleza presente em cada metro quadrado da cidade. Os próprios moradores do local ficavam atônitos, passando a perceber as belezas que os cercavam, quando a repórter as apontava, fazendo com que eles olhassem de imediato e espantados ao redor de onde estavam, passando a ver o que era imperceptível aos moradores, até então.
Penso que nós, moradores de Irati, deveríamos dar mais atenção à nossa cidade, não somente às belezas que as gerações moldaram ao longo desses cento e dois anos, mas principalmente, às belezas criadas por Deus, mas que a vida moderna acaba por nos tornar cegos diante do espetáculo. Deveríamos contemplar cada pedaço dessa natureza que tem sido tão generosa conosco.
Você já parou para assistir o nascer do sol de Irati e as manhãs na primavera, onde as cores da cidade ganham um toque especial pela luz natural? E o por do sol no outono, onde os tons laranja do astro rei contornam os belos morros, formando uma moldura de tirar o fôlego àqueles que se dão o direito de contemplar? Não? Então você nem deve ter visto dos pontos mais altos de Irati, a névoa que encobre praticamente toda a parte baixa da cidade nas frias manhãs de inverno, deixando descoberto apenas o morro das comunicações e outros aos arredores, como se um tapete branco de nuvens surgisse debaixo de nossos pés, mostrando esse espetáculo apenas àqueles que se dispõe a contemplá-lo.
Irati é um belo cenário cinematográfico que a natureza divina e as mãos de todas as várias gerações que por aqui passaram moldaram, e que está aberto para a contemplação a quem se disponha a ver. Por que então não damos a devida atenção? Por que não darmos dez minutos por dia e observar o espetáculo gratuito que nos cerca?
Mas antes de tudo, precisamos cada um de nós, darmos um exemplo de cidadania. Precisamos manter a nossa cidade limpa, sem os resíduos do nosso descaso. Precisamos preservar o pouco de vegetação que ainda resta nos morros e nas ruas de nossa cidade. Nossa história deve permanecer viva na memória das cinquentenárias ruas, recobertas com o suor e o carinho daqueles que com amor, deixaram para as futuras gerações o seu belíssimo trabalho.
Manter viva a natureza de Irati, o trabalho de um povo a nós deixado e também esse magnífico cenário, que para alguns ainda é despercebido, é tarefa para cada um de nós. Cabe a cada morador, preservar a cidade e cultivar a contemplação do que é merecido ser contemplado, para que as futuras gerações possam se encantar com a natureza e se orgulhar de poder tocar nos resquícios de nossa história, da mesma maneira que nós pudemos fazer.

Leandro Ditzel
Membro da Academia de Letras, Artes e
Ciências do Centro-Sul do Paraná - ALACS

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