quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Tortura Aplaudida


Apesar de vivermos em pleno Século XXI, infelizmente ainda nos deparamos com cenas lamentáveis de agressão e maus tratos aos vários tipos de animais, domésticos ou silvestres.
Nossa cidade, frequentemente estadia companhias de circo que trazem consigo, animais selvagens ou da savana africana, bem como demais animais domésticos e da fauna brasileira. O que poderia ser chamado de “espetáculo”, na verdade não passa de atrocidade gratuita e unilateral, onde, ao dono do circo, cabe o lucro (ou, apenas uma forma de sobrevivência) às custas do sofrimento alheio e, aos animais, restando apenas receber atos de injustiça, agressão e desumanidade em troca de um pouco de alimento que, na maioria das vezes não têm a mínima qualidade e nem a variedade necessária para manter a saúde desses seres vivos. Isso se confirma pelo estado em que os animais são vistos em suas jaulas apertadas, frias, úmidas e sujas, expostas ao sol escaldante.
Não faz muito tempo, tivemos em Irati, a presença de alguns circos que além dos maus tratos aos animais no local onde estes se encontravam enjaulados, estes pobres seres, passaram pelo triste e humilhante constrangimento de desfilarem em caminhões pelas ruas da cidade como se fossem troféus, e ainda terem que agüentar a tortura dos alto falantes e buzinas dos caminhões que anunciavam o espetáculo, bem como fogos de artifícios estourando próximo de seus ouvidos, como se uma grande festa estivesse preste a começar. Para quem está nas ruas vendo o “grande desfile” dos animais, pode ser até uma festa. Mas para os pobrezinhos que não têm escolha, isso não é uma festa. É uma terrível realidade vivida dia a dia, mês a mês e ano a ano, até chegar o misericordioso dia final.
Diante do picadeiro, somos contagiados pela magia do circo. A perícia da malabarista, do trapezista ou o riso que nos proporciona o palhaço, entre tantas outras apresentações que demonstrem a técnica e a habilidade, já seriam excelentes motivos para prestigiarmos uma arte milenar e culturalmente rica e, podermos então retribuir com os merecidos aplausos. Por que não fazer circo pelo prazer da arte pela arte em si? Por que se utilizar animais se o espetáculo já se faz completo sem a presença destes? A presença destes animais se faz muito mais necessária em seu habitat natural, onde eles são livres e felizes e têm a natureza como aliada.
Por detrás da lona do picadeiro, onde impera a alegria do espectador, pode estar escondida uma outra face do circo. A face da realidade em que vivem os animais por quase toda a vida, desde o momento em que são capturados à força, do seio de suas mães, as quais na maioria das vezes são mortas para que os filhotes sejam capturados, até o momento em que são descartados em função da velhice. Sabemos que o público espectador procura diversão, mas, inocentemente sem saber, alimenta o espetáculo da crueldade. Crueldade sim. Sei que para muitos se torna pesado e até mesmo desconfortável e indelicado utilizar este termo. Isso talvez se dê, porque não vivemos nas mesmas condições em que vivem estes seres, surrados e humilhados, aprisionados por jaulas e correntes, esperando apenas que a vida passe.
Gostaria de expor que nada tenho em contrário ao circo. Pelo contrário. Gosto de circo e admiro a habilidade de cada um dos artistas que faz a sua apresentação. Também nada teria em contrário às companhias circenses que trouxessem animais de forma não constrangedora e que, esses fossem bem tratados e se sentissem bem. Mas isso na verdade quase nunca ocorre. A minha indignação é com relação à exploração involuntária, da mesma forma em que fico indignado quando me deparo com qualquer outra forma de injustiça, seja com seres humanos ou quem quer que seja.
Dessa forma, vejo que se faça urgente e necessário que, em nossa cidade, a exemplo de tantas outras cidades do país, a elaboração de leis que proíbam a permanência de circos ou qualquer outra forma de espetáculo que explorem e/ou resultem em sofrimento de qualquer forma a qualquer tipo de animal. Apóio em condicional, a vinda de companhias á Irati, que tenham o objetivo de manter acesa a chama do circo, mas, que não causem sofrimento a nenhum tipo de vida, incluindo a humana. Circos que não possuam animais em condição de maus tratos poderiam sim mostrar aqui, as suas habilidades, pois afinal, espetáculo de verdade se faz com perícia e arte, e não com maldade.

Leandro Ditzel
Membro da Academia de Letras, Artes e
Ciências do Centro-Sul do Paraná - ALACS

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